domingo, 28 de novembro de 2010

Como?

Como ajudar um louco?
Se nem mesmo ele sabe da loucura,
se qualquer palavra somente traz
a certeza da incompletude.
Se a minha própria loucura
ainda me turva os olhos!?

Como fazê-la ver
que é escrava miserável
cujo impaciente senhor
é seu próprio corpo
e suas algemas e correntes
são seus prazeres físicos?

Como mostrar a ele
que a juventude passa-lhe ante os olhos
escorre pelos vãos dos dedos
e jamais voltará
enquanto desperdiça seu tempo
com filosofias vãs, sobre mundos ideais
e teorias, teorias...

Como explicar a ela
a ciclicidade da busca
se todos os pomposos yogas
os complexos mantras
todos os penduricalhos místicos
há muito só pertencem à mente?

Como agir?
Se as palavras que saem
sempre estão distorcidas,
se tudo que entra
minha mente louca distorce
e qualquer julgamento
qualquer preferência
é não mais que ilusão?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O eu, o outro...

Indo além do certo
e do errado...
Permitindo-se...
Fica fácil ver e conhecer
as pequenices do eu.

Infeliz efeito colateral
é ver as pequenices alheias...
Me suportar exige quase toda paciência
como suportar os outros?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

23 anos em 39 linhas

Depois de ter o coração
destroçado em dor e pranto
por ter te amado tanto,
Beija-flor...
Deicidi só amar a mim mesmo.

Então, o mesmo coração
foi atingido, machucado,
sangrou até quase morrer
pelo cego amor próprio.

Perdido e desolado
fui atraído à sua luz.
Em repouso, fui curado
e comecei a aprender.

Aprendi sobre quem era
e sobre quem nunca tinha sido.
Não me satisfiz.
Descobri onde encontrá-lo
e onde não valia procurar.
Não me satisfiz.

Encontraste-me
e temi, estupefato com sua grandeza.
Me chamaste novamente,
e, não sem medo, atendi.
Sussurraste então em meu ouvido
todo o segredo da vida.

O que pude absorver
me transformou em outro ser.
O que não pude,
hoje sinto falta.

Descobri a quem direcionar
meu ímpeto por amar.
Hoje aguardo, paciente e ansioso,
como que numa corrida em câmera lenta,
a minha morte
para que Eu e Você
nos tornemos
novamente
finalmente
um.

sábado, 13 de novembro de 2010

O que vê o olho de Shiva?

Sob a língua
mílimetros quadrados de papel.
Entre o papel
uma passagem de ida
e, felizmente, de volta
rumo a insanidade.

Papel com o papel de endoidar,
papel com desenho de deus Hindu.
Papel que revela meu papel na obra...

Em meio a todos
o eu.
O eu defronte o eu,
um eu, de bilhões...

Pequenez, pequenez,
enlouquecedora pequenez.
Que importa eu?
Um mero detalhe,
um verso da poesia da vida.

Sei que a poesia é bela,
o chá amarelado me mostrou.
Eu acho...
Mas como é difícil apreciar a obra
quando sou tão fascinado
por esse pequenino verso
que vejo no espelho...

Oh, eu, eu, eu
quando deixarás de ser?
Oh impaciência, oh crença no futuro,
oh medo e expectativa...
Quando não mais serão!?

Quando, quando a solidão suprema
deixará de me apavorar?
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